Dr. Olímpio Moraes defende interrupção da gravidez após 22 semanas e alerta para consequências da legislação proposta pelo PL do Estup4dor
247 – O ginecologista e obstetra Olímpio Moraes, diretor médico da Universidade de Pernambuco, que em 2020 enfrentou protestos enquanto realizava a interrupção da gestação de uma menina de 10 anos, vítima de estupro, diz que, apesar das críticas, se mantém firme em sua posição em defesa do aborto legal, inclusive após 22 semanas de gestação.
“Alguém tem de falar. Eu posso ficar velho, mas não terei sido omisso. O problema é o silêncio dos bons”, afirma Moraes, que lidera um dos poucos serviços no Brasil que realiza abortos legais após esse período. Ele se manifesta contra o projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados que equipara aborto a crime de homicídio.
Ele critica a falta de experiência dos legisladores com a realidade das vítimas de violência sexual. “As pessoas não têm ideia do que estão fazendo. Políticas mexem com saúde e não têm experiência, nunca atenderam uma mulher vítima de violência”, diz, defendendo a consulta a especialistas na elaboração de leis sobre direitos reprodutivos.
O médico aponta diversas barreiras que atrasam o acesso ao aborto legal, fazendo com que muitas gestações cheguem a 22 semanas ou mais. “Tem várias barreiras. É preciso mais agilidade”, argumenta, destacando que a resistência de alguns médicos também contribui para esses atrasos.
A distribuição desigual dos serviços de saúde que realizam abortos legais no Brasil é outro problema destacado pelo obstetra. “O Brasil é um país continental em que apenas 3,6% dos municípios possuem serviço de abortamento legal. De 100 serviços cadastrados, metade funciona”, informa.