O menino que gostava de ler o Jornal Pequeno completa 62 anos nesta quarta-feira

Manoel Santos Neto, depois de estudante da antiga Escola Técnica Federal do Maranhão, conquistou o diploma de bacharel em Comunicação Social na UFMA, no início dos anos 90

Minha mais antiga lembrança do Jornal Pequeno data do tempo em que, aluno novato do Liceu Maranhense, passei a freqüentar a Biblioteca Pública Benedito Leite. Recordo que sobre a imensa mesa de leitura, onde eram expostos os jornais para a consulta e a leitura diária, havia sempre o Jornal Pequeno com suas manchetes garrafais.
Até então, o JP tinha ainda a fisionomia que lhe impusera o fundador, o saudoso José Ribamar Bogéa (1921-1996). Nessa época, o jornal dava prevalência, nas suas manchetes diárias, a fatos da crônica policial que provocavam grande impacto na cidade.
Confesso que eu não gostava da grotesca narrativa dos crimes e, da mesma forma, eu saltava os anúncios, que não me interessavam, e ia diretamente às páginas dos artigos, crônicas e editoriais. O que eu gostava mesmo era de ler as cartas, os comentários, as reminiscências, os atos e fatos da vida maranhense.

Anos depois, nas leituras de meu tempo de adolescente, encontrei o Jornal Pequeno, surpreendentemente, em um dos romances mais elogiados de Josué Montelo (1917-2006): “Um beiral para os bem-te-vis”. Neste livro, Montello desenvolve uma romântica narrativa com várias referências ao Jornal Pequeno que, segundo ele, “sabe de tudo quanto se passa em São Luís”. Ribamar Bogéa, na pele do velho Zé Pequeno, aparece numa das cenas capitais da trama, quando Venâncio Sezefredo reage, irado, à publicação da foto de sua neta, completamente nua, na garupa de uma motocicleta, na capa do jornal.

Como se vê, o JP está alicerçado em profundas raízes maranhenses. Por isso mesmo eu, particularmente, acho que não há como ignorar a importância deste jornal no contexto da história da Imprensa no Maranhão. Acho também que, na história do JP, três figuras humanas se impõem, de forma obrigatória: o saudoso José Ribamar Bogéa (1921-1996), o fundador; Josilda Bogéa Anchieta (1959- 2011) e Dona Hilda, a matriarca da família Bogéa.
Vale ressaltar que, após a morte do pai, foi Josilda, de corpo e alma, a dedicação quase exclusiva de toda uma vida, consagrada ao Jornal Pequeno.
Com a morte de Josilda, no dia 10 de janeiro de 2011, senti a perda irreparável. Afinal, foi ela que, no começo de junho de 2002, me deu uma alegria inesquecível, ao me receber de braços abertos para trabalhar na Redação do Jornal Pequeno. E este seu gesto teve ainda a plena aprovação de seu irmão, o querido amigo Lourival Bogéa, diretor geral do JP.

Nestes 60 anos, não é demais assinalar que passaram pela Redação do Jornal Pequeno levas sucessivas de grandes colaboradores, de grandes profissionais. Alguns, perto de meu convívio, deixaram-me saudades como José Ribamar Sousa dos Reis, Bo Korsak, Walter Rodrigues e Ray Santos, com aquela inesquecível coluna “Tintim por Tintim”.
Jamais imaginava que um dia eu seria repórter e redator deste jornal (onde estou desde junho 2002) e, nesta condição, seria testemunha presencial tanto dos fenômenos culturais, quanto da vida cotidiana como também das lutas políticas mais importantes travadas ao longo dos últimos anos no Maranhão.

Nos guardados de minha memória, consigo rever aquele menino que eu fui, vivamente interessado pelos jornais que eram colocados na mesa de leitura da Biblioteca Pública Benedito Leite.
Entre angústias e alegrias resolvi escrever esta breve reflexão sobre os caminhos que me coube percorrer até aqui. Minha gratidão a Deus por estes 62 anos que completo hoje, nesta quarta-feira (23). E dou graças a Deus também por ter tido a chance de chegar à Redação do Jornal Pequeno.
Afinal, foi aqui que tive a honra de estreitar os laços de amizade com grandes mestres, entre os quais o professor Alberico Carneiro Filho, Ademário Cavalcante, Cunha Santos, Walter Rodrigues, Oswaldo Viviani, Herbert de Jesus Santos e Wellington Rabelo (a quem saúdo em nome de todos os bravos das novas gerações). São todos eles profissionais por quem sempre tive grande carinho, apreço e admiração!

 

Por: Manoel Santos

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