
O núcleo político mais ligado ao ex-governador Flávio Dino (hoje ministro do STF) decidiu entrar de cabeça na crise entre a Prefeitura de São Luís e os servidores do controle interno. Mas entrou pelo lado que menos combina com o discurso histórico do grupo: contra a valorização de servidores públicos, ou seja, dos trabalhadores.
Vice-governador Felipe Camarão, senadora Eliziane Gama, os deputados federais Márcio Jerry e Rubens Júnior e os estaduais Rodrigo Lago, Fernando Braide, Carlos Lula e Othelino Neto – entre outros – fizeram publicações e declarações alinhadas ao prefeito justamente no momento em que ele tenta revogar a lei que assegura o reajuste dos auditores e controladores municipais, uma categoria estratégica, responsável por fiscalizar e auditar a máquina pública.
Sem comandante no espólio de Flávio Dino, eles se agarram nos tentáculos do poder municipal já mirando no Palácio dos Leões.
O movimento soou contraditório até entre aliados. O grupo que sempre se apresentou como defensor das carreiras públicas agora repete as justificativas do prefeito, ignorando um detalhe que desmonta o argumento de recusa de aumento salarial por parte do prefeito.
A lei que Braide tenta derrubar (e não cumpre) contém uma cláusula que permite ao próprio prefeito abrir mão de parte ou de todo o subsídio, caso o objetivo fosse rejeitar o aumento. O texto é cristalino:
“É facultado ao Prefeito, por ato próprio, renunciar total ou parcialmente ao valor do subsídio, o que, após oficializado, resultará na doação aos cofres públicos da parcela não embolsada.”
(Inciso 3º do Artigo 1º)
Ou seja: se a preocupação fosse realmente essa, Braide poderia abdicar dos vencimentos ao invés de travar o reajuste dos servidores que tem o salarial vinculado ao do chefe do executivo municipal.
Mesmo assim, o dinismo resolveu puxar o coro pró-Braide, atacando justamente a valorização de uma categoria que sustenta a integridade administrativa do município. Enquanto o discurso público do grupo segue sendo “defesa do serviço público”, a prática nesta crise aponta o oposto: blindar o político de estimação e desautorizar servidores técnicos que pedem apenas o cumprimento da lei.


